Interessante a matéria a seguir. Mostra que a elite paulistana, ou melhor, a elite brasileira, ainda não está preparada para o ensino a distância.
O desfecho do VII Workshop Núcleo de Pesquisa e Tecnologia (NPT) Educacional, realizado em Ribeirão Preto e vinculado à Universidade de São Paulo (USP), teve um tom inesperado, com críticas severas à própria instituição de ensino realizadora do evento. Na tarde de quinta-feira, 5 de novembro, coube ao presidente da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), Fredric Litto, o encerramento do encontro realizado ao longo do dia. E partiram dele as mais severas críticas à universidade.
“A USP fez greve contra a EAD. Seus alunos se mobilizaram contra isso de forma desinformada, no melhor estilo ‘não vi e não gostei’. O problema é a postura elitista da comunidade acadêmica em geral”, afirmou ele, numa referência geral às universidades públicas paulistas que, somente após anos de uma postura reticente, começam agora a investir na modalidade. A Unesp, por exemplo, já abriu, via Univesp, oferta de 1.350 vagas para graduação de professores em EAD. No entanto, o início de ações semelhantes na USP ainda sequer têm data prevista de execução.
O próprio coordenador do NPT, professor José Dutra de Oliveira Neto, fez coro às críticas do presidente da Abed, que já esteve à frente da Escola do Futuro, da USP. “Nós, do NPT, fazemos parte da Universidade de São Paulo mas, daqui de onde estamos, de Ribeirão Preto, nem sempre podemos nos mobilizar contra a postura conservadora da instituição. Um dos exemplos é a exigência, agora em pauta, de que os cursos EAD tenham 60% de carga presencial e apenas 40% de atividades a distância. No meu entendimento, esse esquema não caracteriza a EAD. Isso, para mim, é uma proposta de ensino presencial”, criticou Dutra.
O conservadorismo das universidades públicas foi destacado como um descompasso entre essas instituições, consideradas de ponta, e a tendência de revolução na área da aprendizagem. “A única coisa permanente hoje é a mudança”, afirmou Litto ao explicar a necessidade de atualização constante exigida pela sociedade do conhecimento. Segundo ele, foi-se o tempo em que o professor era fonte única de aprendizado.
O presidente da Abed destacou que para além dos termos pedagogia e andragogia, que referem-se a educação de crianças e adultos, respectivamente, há o conceito de heutagogia, que refere à autodescoberta. “O aluno mesmo decide o quer estudar”, explicou. Outro item abordado por Litto foi o perfil ativo que o estudante passa a ter no ensino a distância. “O que o aluno quer é bom conteúdo, bem organizado e com interatividade”, ressaltou.
Fredric Litto apontou que a educação deve crescer até ser o quarto grande setor econômico mundial, ao lado da agricultura, indústria e serviços. As ferramentas existentes para auxiliar o ensino a distância passam pelos objetos de aprendizagem e pelos recursos educacionais abertos, como revistas, periódicos, mapas, artigos. No entanto, ele alerta para o perigo da geração Google, que faz uma leitura superficial dos textos. “Materiais complexos exigem isolamento e compreensão”, explicou o presidente da Abed.
Litto também traçou o perfil de um estudante a distância. Segundo ele, “a EAD não é para qualquer um. O aluno que depende de cobrança ou elogios só serve para o presencial. Para utilizar a EAD é preciso ser motivado e autodisciplinado”. Ao ser questionado sobre como deve ser o trabalho do tutor, o presidente da Abed argumentou que não é preciso ter títulos acadêmicos para assumir essa função. “Cada instituição deve ser autônoma para formar o seu tutor, pois não existe um padrão”, concluiu.
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